12-12-11
Se eu não escrever eu morro. É
uma coisa muito grande que sai de dentro, na verdade não sai fica, fica,
fica..... Eu não sei quem sou, sou.... A coisa é grande e não sai de dentro,
fica, fica, fica.... Não sei se vou conseguir tirar isso daqui sozinha, na
verdade sei que não, mas desejo que sim.... O que desejo, também não sei, só
sei que é grande.... bem grande e não sai daqui.... A primeira ação é tentar
pensar em mim, pensar e não tentar... O que é que eu quero, como eu me sinto,
não isso não, eu não posso mais pensar como me sinto, isso já penso demais da
conta. A primeira ação é pensar em mim, o que eu posso fazer por mim mesma....
não é lavar, cuidar da casa, cozinhar.... é dançar, ler, ver filmes, aprender a
costurar, aprender a pintar, a criar, a escrever, é isso, eu tenho que ser
autônoma, não sei se isso é uma coisa que colocaram em mim, mas é assim que
sinto.
Pensar em compartilhar, pensar em ser dois é se
frustrar, pois o tamanho que um quer ser dois o outro quer ser um mais um, um
mais um não é a mesma coisa que dois.
Dois é dois, se a gente tem dois
pés a gente até anda com um só, mas sente falta e logo usa o outro também, como
vou ligar um aparelho na tomada só com um buraco, o buraco até admite três, mas
um, nunca. O que eu quero... será mesmo que quero o dois... talvez isso seja só
enganação de alguém que não quer admitir sua solidão, seu número um, afinal um
é sempre um. Eu quero ser um.... eu sou um..... Será?
Esse
foi o ano mais longo de um ano que passei. Tudo foi sentido com dor, e a
dor de um é muito maior que a dor de dois. E o dois não pode sentir a dor sem
ler-la. A palavra é a dor dos dois. Como aceitar a cegueira do dois, se é só o
sentido que sente a palavra. O problema é que um não é som, nem cheiro, um é
palavra e se palavra não é tocada pela pele ela queima dentro do eu, um.
Queima, queima, queima, queima, e nada que um possa fazer vai tocar um dois
cego de sua maior dor, por sua dor, cego pela palavra.
Se eu não escrever eu
morro, mas porque eu não escrevo e esqueço um dois que não vê? Isso é uma
tortura, e dois parece sentir o mesmo, ou pelo menos alguma coisa que se pareça
com dor, acho que não, mais leve, bem mais leve.... O que dois não entende é
que um não sobrevive de brisa, um sobrevive da palavra, mas sempre da palavra
de dois, dois e um.... Não um, você tem que saber sobreviver de sua própria
palavra e essa tem que ser sua coisa, sua coisa, sua coisa, sua coisa, sua
coisa.... Um não consegue ter sua coisa, talvez porque sempre foi dois e dois é
diferente de um mais um. E toda vez que um foi um mais um, um procurou outro um
pra formar dois....
E o pior de tudo é não poder
dividir a dor na mesma cama. A dor é repartida na mesma cama, mas não dividida,
e o outro não vai ler essas palavras, pois elas carregam uma força sangue que
dois nunca vai deixar de ler ao ver ....
então não sei
o que resta entre a fresta do lençol e a colcha... Um não mora mais ali,
um sobrevive ao dia claro. Um sobrevive com menos peso quando um escreve. Será?
Um comentário:
8
saudade tem que ser igual a bumerangue
e ser doadora de sangue
porque
saudade sem resposta
é eco que não volta
porque
uma saudade sozinha
é uma saudade doente
de doença do ente
a saudadescreve
e a tinta mancha
e a tinta é quente
a saudadescreve
como quem faz diálise
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