Projeto Lerelena

Projeto Lerelena

Em homenagem ao centenário do nascimento da poeta paranaense Helena Kolody iniciamos o Projeto Lerelena.

Nove poetisas do sul brasileiro se propoem ao desafio de ler relendo (ler helena) e interInvencionar. A proposta é confluir e colidir a nossa letra com a dela, helena. As interInvenções serão sempre sensibilizadas por poemas seus. Nesta primeira etapa partiremos de nove poemas que serão postados a cada sexta-feira.


Miragem no caminho (Helena Kolody)

Perdeu-se em nada,

caminhou sozinho,
a perseguir um grande sonho louco.

(E a felicidade
era aquele pouco
que desprezou ao longo do caminho.)



sábado, 1 de dezembro de 2012

Projeto Lerelena 9


Miragem no caminho

Perdeu-se em nada,
caminhou sozinho,
a perseguir um grande sonho louco.

(E a felicidade
era aquele pouco
que desprezou ao longo do caminho.)

(Helena Kolody)



Miau (Jo Ana)

e essa tal felicidade
felina
minguante

boceja, espreguiça

sai de saia
sambando
semeando
semiando
sem fim

e cheia de preguiça.



Hoje (Caro Liz)

felicidade é
consertar o interruptor
e acender a luz do quarto.



onde? (Olivia Lucce)

um resquício de caminho
de um caminho devagar
que não sabe aonde vai chegar

infinito. sei que o habito.
e ele habita em mim.
me define. me personaliza.

o caminho sou eu.
ou um resquício do eu.

é dor branca. é paz amarela. é amor roxo.
dor-paz-amor. caminho doeu,

Caminho e palavra dá confusão. Versos que tentam rimar. Tentativa de soneto que carece de dois versos. Adverso, confesso. Confuso e obtuso. Que caminho é esse? Que presente é esse? Qual é o futuro? O caminho é também o passado? Para onde olhar?

para nada. Paraná. Nonada.
Helena. Lerelena.
A Helena sou eu.





(Denise Vieira) 

dilacerado
tentou olhar para frente
enxergou o atrás
sentiu a dor

tamanha

se perguntou...
teve pena de si mesmo.
o que fazer?
apenas
crer


Miragem ou caminho? (Àdnama)

Quando te afastas,
me vejo ao amanhecer
como luz difusa na parede.
Sou miragem ou sou caminho?
Quando te afastas,
ao fundo toca um bolero.
( … ?)
Quando te afastas,
de todas as possibilidades
escolho … ser.


felicidade? (Anali Mattar)

composição toda trabalhada no detalhe
areia branca, 
cigarra e milhões de água.



(Denise Vieira) 

Réplica ou peça épica?
Desejo que inda desejo!
Sais labirinto a fora 
e tens hora.
Olha!
Vida dirigida.
Assim te sei
há horas!
O que quero?
O agora!


(Turquesa)

como pedra fui convidada à roda
e atendi ao chamado do reino mineral.
semipreciosa me alimento e, sem polimento,
como pedra fui, com vida, ávida, à cada palavra,
ficar no não sei.
[dentro dele mora um anjo]
e sou eu, pedra.

de onde chama? da roda.
de onde chamo? da chama.
[tem um bosque que se chama]
eu também entoo essa velha canção,
rock de roda.
sempre que rola eu me lembro
e gosto de não saber, agora.
eu me lembro e ninguém tira.
eu me lembro quem atira
a primeira pedra
e sou eu.

sou essa memória pétrea,
o que rola a tudo que me liga
da pedra às pedras.
sou eu esse sexo, esse seixo, essa rocha, essa cria.
essa vontade de roda.
[que roubou meu coração]
e sou eu, pedra.

felicidade, minhas pedras queridas?
desde sempre é o que sou eu e não sei
quando sou o que somos.
e sou eu, pedra.
[se essa rua se essa rua fosse minha eu mandava eu mandava ladrilhar]



























































































 



          
 

domingo, 28 de outubro de 2012

Lerelena 8



Jornada
 
Tão longa a jornada!
E a gente cai, de repente,
No abismo do nada.


 Helena Kolody 



Se a soma do nada é branca
quem não mora aqui?  

(Caro Liz)



Jornada?
O nada é a jornada. Jor-nada.
Não sei o que o Jor faz ali. Faz nada.

(Olivia Lucce)



Abismos amarelos

andar é cair
o CÉU não é o limite
para um pulo abismado.

(Lívia Berthe)



lerelena lerelena lerelena

escrevê-la esvaziá-la
enchê-la revirá-la

tão curto o verso
tão longa a jornada
um nada tão cheio de tudo
um tudo tão cheio de nada

relerelena relerelena relerelena

(Turquesa)




e alguém me dizia sempre que viver muito é muito... que cair é uma bexiga que vai ficando murcha... que sentar é esperar para não cair... que segurar é remédio com dor... que sonhar é ver todos curados e só então partir.

Helena Kolody 92
Jahir Mattar 95
Anali Mattar 37 

Caio Kolody-Mattar curada.



tudo por Drummond

sempre que eu penso em escrever um poema
eu penso no sentimento do mundo
mas eu não me chamo Raimunda
e isso não tem rima nem solução

me deparo com minha imagem incompleta:
duas mãos e a ausência de rimas
um corpo que passa, um corpo que enlaça
a vontade de ser e a vontade de dizer

fazê-lo sem covardia e sem graciosidade
mas com vontade de que eu seja minha palavra
e de que minha palavra seja eu
ao ser nada

(Maia Amai)




abismo o abismo entre blocos de rascunho da vida de um mesmo roupão branco

de todos os dias passados
e de todos os dias amassados
lembro do teto manchado de sombra cinza toda vez que a cama só tinha um lado quente lembro de não ver teto no sonho claro da cama de solteiro lembro da saia verde de linha pesada em dia de sol amarelo lembro do vestido de festa sujo da volta na rua contra mão do telefone na sala de estar no cinema ao lado do teatro do exame de sangue do vento calmante de abril das idas no parque no popi no baio na lagoa do sorriso da menina vestida de rosa que segura dos cachorros brancos na foto da estante do quarto
do choro
na escada na praia no elevador na praça na garagem no semáforo no carro no banheiro na espera do ônibus no ônibus na construção no terreno baldio na arinha no chalé na água doce na feira na beira na teia na cama da boneca na sacada no quarto de hotel no voo duplo no jornal na jornada

hoje abro mais um bloco de rascunho
isso é nada?  
(Jo Ana)

 

De repente é o nada
O vazio
A incerteza

Um buraco
sem parede
e sem fundo

De repente é a liberdade
e também o erro

O que sobra
da tua ausência
o nada e
a caminhada

(Denise Vieira)




sábado, 20 de outubro de 2012

Projeto Lerelena 7

 

Grafite (Helena Kolody) 

 

Meu nome
desenho a giz no
muro do tempo.

Choveu
sumiu. 



   
Mandalas na areia 
                     (Amanda)
 

   Somos fazedores
   inventadores de ilusões   
   (Estas letras são pegadas de gaivotas no tempo)
   de rimas que nunca existiram.
   


desolha onda que vem 
                         (Lívia Berthe)


usar óculos escuro na chuva.
olhar escuro que tudo muda.
me sente.
e aquele toque de veludo com que sempre sonhei?
pintar ei.




gesso giz cré cal greda: sizígia me segreda   
                                                  (Turquesa)


que pelos céus sob os quais
vão se primaverando estrelas
em setembros
luas temporais
venha a florescência do verbo
não só fogueado em cor fátua
sobretudo sobre todos
agostos e outubros
primavera: que seja flor enquanto promessa



Serena  
       (Jo Ana)


Meu nome
sonho sem tinta
nas nuvens

Comeu
sumiu

mas alguém dormiu cantarolando a serenata 
nata do pão doce
serena 
serelena

ana apenas.



Sina 
    (Caro Liz)


e na trama do nome próprio
um é isca
dois é pista
três tristes tigres

mais um mais um mais um mais um mais um mais um
nove

a rede resiste
e a mão que firma risca a sina.  



Minha mão não tem nome 
                               (Anali Mattar)


durmo na rede
numa casa sem parede 
e na rua dos bobos número zero
o tempo é uma flor diferente na cortina do quarto 
o drama é a saia da cama
o salgado doce
o outro pouco
o eu eco rouco
o tronco
o conto
o pronto
o ponto
verde no azul abusado da joaninha no peito da mão sem nome
da menina.




          (Denise Vieira)


Tenho um eu
mutante
múltiplo


de cada um

Tenho um eu
que corre
e outro que contempla


aquele que inflama


um outro ainda
que ri
e o que chora


tenho um eu
que é meu
que me acompanha
de dia e de noite
E quando mais dias
não houver


Tenho aquele que ama
e que permanecerá
um eu que não sou mais
e aquele que virá.



onde?
                 (Olivia Lucce)


muro
que muro?
não o vejo

muro
que muro?
não o toco

muro
que muro?
não o falo

muro
que muro?
não o escuto

muro
que muro?
não o degusto

muro invisível. cego. etéreo. mudo. surdo. insípido. intocável.

muro fronteira
muro rumo





a palavra
            (Maia Amai)



dizem que a história surgiu com a palavra escrita
dizem que a palavra escrita inventou a ficção
dizem que a ficção é à base de realidade
e a minha realidade é a palavra
minha história se faz pela palavra
palavra inquieta, equívoca, opaca, angustiada
palavra escrita, história, ficção, realidade
tudo é falta
jamais preenchida
tudo é falta
palavra não dita
tudo é falta
tudo e nada
 











 









domingo, 14 de outubro de 2012

Projeto Lerelena 6 - poesia mínima


Poesia mínima
                  Helena Kolody

Pintou estrelas no muro
e teve o céu
ao alcance das mãos.



Lampejo (Turquesa)

mordeu a língua no escuro
e viu estrelas
em bem outro céu.


poesia mínima (Olívia Lucce)

azul mar tristeza melancolia serenidade falta de vontade profundeza água mágoa cor primária todos os bebês meninos são vestidos de azul aquele time de futebol que eu não gosto bandeira da onu bandeira do uruguai a cor predileta do meu pai linhas do caderno comida nenhuma alguma flor dor aguda sexto sentido olhos do meu amor saudade melhor idade tranquilidade chico indiferença o que está embaixo da pele um dos livros na estante infinito linha do horizonte céu azul

o céu é o excesso


Prato do dia (Jo Ana)

não é apenas
luz de vela
luz da lua

banho de mar

é também
luz fria
tela de led

resfriado, mulher sem batom, camisa listrada
um lado, o outro lado... 
poesia
também é
arroz com feijão. 



Sem muros (Denise Vieira)


Sem muros
pra pintar estrelas
É preciso arrancá-las das entranhas



e as estrelas na nuca (Anali Mattar)


e as estrelas tatuadas na nuca
costuram o céu
cinza mas azul 
do corpo salgado da moça pintada

e a lua enamorada
deixa cair gotas laminadas
no peito da voz rouca
do momento
do movimento
do morro dos ventos uivantes.  


Alô, alô, só quero descongestionar 
                                             (Lívia Berthe)

Não sei se é um congestionamento na tempestade ou uma tempestade no congestionamento.
Mas todos sabem que com a louca vontade de descongestionar veio.
apenas aprenda a ir, sem pensar, onde tudo pode acontecer...
 

 
Descrição: https://mail.google.com/mail/images/cleardot.gif