Projeto Lerelena

Projeto Lerelena

Em homenagem ao centenário do nascimento da poeta paranaense Helena Kolody iniciamos o Projeto Lerelena.

Nove poetisas do sul brasileiro se propoem ao desafio de ler relendo (ler helena) e interInvencionar. A proposta é confluir e colidir a nossa letra com a dela, helena. As interInvenções serão sempre sensibilizadas por poemas seus. Nesta primeira etapa partiremos de nove poemas que serão postados a cada sexta-feira.


Miragem no caminho (Helena Kolody)

Perdeu-se em nada,

caminhou sozinho,
a perseguir um grande sonho louco.

(E a felicidade
era aquele pouco
que desprezou ao longo do caminho.)



sábado, 20 de outubro de 2012

Projeto Lerelena 7

 

Grafite (Helena Kolody) 

 

Meu nome
desenho a giz no
muro do tempo.

Choveu
sumiu. 



   
Mandalas na areia 
                     (Amanda)
 

   Somos fazedores
   inventadores de ilusões   
   (Estas letras são pegadas de gaivotas no tempo)
   de rimas que nunca existiram.
   


desolha onda que vem 
                         (Lívia Berthe)


usar óculos escuro na chuva.
olhar escuro que tudo muda.
me sente.
e aquele toque de veludo com que sempre sonhei?
pintar ei.




gesso giz cré cal greda: sizígia me segreda   
                                                  (Turquesa)


que pelos céus sob os quais
vão se primaverando estrelas
em setembros
luas temporais
venha a florescência do verbo
não só fogueado em cor fátua
sobretudo sobre todos
agostos e outubros
primavera: que seja flor enquanto promessa



Serena  
       (Jo Ana)


Meu nome
sonho sem tinta
nas nuvens

Comeu
sumiu

mas alguém dormiu cantarolando a serenata 
nata do pão doce
serena 
serelena

ana apenas.



Sina 
    (Caro Liz)


e na trama do nome próprio
um é isca
dois é pista
três tristes tigres

mais um mais um mais um mais um mais um mais um
nove

a rede resiste
e a mão que firma risca a sina.  



Minha mão não tem nome 
                               (Anali Mattar)


durmo na rede
numa casa sem parede 
e na rua dos bobos número zero
o tempo é uma flor diferente na cortina do quarto 
o drama é a saia da cama
o salgado doce
o outro pouco
o eu eco rouco
o tronco
o conto
o pronto
o ponto
verde no azul abusado da joaninha no peito da mão sem nome
da menina.




          (Denise Vieira)


Tenho um eu
mutante
múltiplo


de cada um

Tenho um eu
que corre
e outro que contempla


aquele que inflama


um outro ainda
que ri
e o que chora


tenho um eu
que é meu
que me acompanha
de dia e de noite
E quando mais dias
não houver


Tenho aquele que ama
e que permanecerá
um eu que não sou mais
e aquele que virá.



onde?
                 (Olivia Lucce)


muro
que muro?
não o vejo

muro
que muro?
não o toco

muro
que muro?
não o falo

muro
que muro?
não o escuto

muro
que muro?
não o degusto

muro invisível. cego. etéreo. mudo. surdo. insípido. intocável.

muro fronteira
muro rumo





a palavra
            (Maia Amai)



dizem que a história surgiu com a palavra escrita
dizem que a palavra escrita inventou a ficção
dizem que a ficção é à base de realidade
e a minha realidade é a palavra
minha história se faz pela palavra
palavra inquieta, equívoca, opaca, angustiada
palavra escrita, história, ficção, realidade
tudo é falta
jamais preenchida
tudo é falta
palavra não dita
tudo é falta
tudo e nada
 











 









Um comentário:

Unknown disse...

Cida Ikovê (Cida Ikovê)

Firmo: Cida Ikovê
e afirmo meu nome de autora
mas amanhã assinarei
uma vez mais: Cida Ikovê
e depois assinarei
várias vezes mais: outros nomes

(Olivia, Caro, Turquesa, Amandoada, Denise, Eline, Helena, Lívia, Maia, Anali, Alícia, Anônimo, Jo...)

até que de meu nome tão próprio
um dia na rua me chamem de Palimpsesto Perfeito.
Juro que não olherei para trás
e seguirei caminhando como se tivesse apenas ouvido mais um psiu.