Projeto Lerelena

Projeto Lerelena

Em homenagem ao centenário do nascimento da poeta paranaense Helena Kolody iniciamos o Projeto Lerelena.

Nove poetisas do sul brasileiro se propoem ao desafio de ler relendo (ler helena) e interInvencionar. A proposta é confluir e colidir a nossa letra com a dela, helena. As interInvenções serão sempre sensibilizadas por poemas seus. Nesta primeira etapa partiremos de nove poemas que serão postados a cada sexta-feira.


Miragem no caminho (Helena Kolody)

Perdeu-se em nada,

caminhou sozinho,
a perseguir um grande sonho louco.

(E a felicidade
era aquele pouco
que desprezou ao longo do caminho.)



sábado, 26 de maio de 2012

Leituras 28/05/2012

Queridas leitoras,

Existem muitos caminhos para apreciarmos, minhas escolhas partem da impossibilidade.
Impossibilitada de eleger por onde começar
                                                               no meio do caminho,

Impossibilitada de saber quem sou 
                                                              se eu seria personagem,
Impossibilitada de ver a realidade
                                                               a máquina do mundo,

caminhemos.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Poema dos desenformados


Tentei imitar a balada do John e da Yoko

Mas me dei conta de que essa Yoko não tem um John



Quis escrever como Machado de Assis ou Eça de Queirós

Mas não sou realista o suficiente, e, mesmo o negando, ainda acredito no romantismo



Ensaiei um soneto no estilo de Gonçalves Dias

Mas meu sarcasmo aniquilou com as rimas e com as palavras de amor



Fitei a enseada como o fizera Rubião em Quincas Borba

Mas minha paixão por Machado me lembrou que não era Rubião, tampouco Capitu ou Brás Cubas, e isso me alertou para o fato de que sempre serei eu mesma



Amei como muitos já amaram, e estou apaixonada por muitos, homens e mulheres

Mas todos trazem à tona, em um ou em outro momento, o que preciso mudar em mim, pois nunca serei perfeita



Convenci-me de que o acaso não é mais do que uma coincidência, um fato insignificante

Mas nunca deixei de acreditar no destino



Olhei para todas as pessoas sós e percebi um fato simples: todas perseguimos alguma coisa

Mas como conseguiremos atingir nossos objetivos e o quê buscamos, nem mesmo isso o sabemos



Acabei me deparando com esse poema de versos simples e rimas inexistentes

E notei que não preciso pensar em uma coisa ou em outra, com um "mas" no meio

Dessa forma, fico no meio-termo da vida, tentando ser comum sem me tornar igual



Sou desenformada, etérea, fluida, intangível

Sou aquilo que não tem definição, cujas palavras não simbolizam a essência

E busco justamente aquilo que as palavras não conseguem inscrever em si mesmas



E assim somos todos, iguais perante a lei, diferentes entre nós mesmos

Buscamos saciar nossos desejos e completar a nossa eterna incompletude



Finalizando, se leste as notícias hoje, saberás que tudo permanecerá assim

Letras, músicas, pessoas não preencherão esse vácuo: é justamente ele que nos mantém vivos

terça-feira, 22 de maio de 2012

O buraco é bem mais fundo,
não sei se estou preparada para cair,
Não posso nadar sem pé de pato.
Contorno sentido


Ouço a voz de dentro do cano
Orelha direita solta no espelho
Ouço um pingo grosso deslizar na cor metálica
O segundo andar de um posto se estica
Ouço o sapato duro de quem não chega
O segundo céu da noite sempre fria é um carpete
Ouço a temperatura mais doce da boca
O centro é sempre quente
Ouço o toque mentiroso da (h)e(x)sitação
O forte querer do som mecânico existencial
Ouço
Ou sou

árvore semi molhada seca

Ouço
Ou sou

sobreposição de uma tela tramada de um portão fechado

Ouço
Ou sou

perímetro de um contorno nu

Ouço
Ou sou

doença inflamada framada de um sentido oco

Ouço
Ou sou

o medo da palavra.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Perguntei para a vida o que ela queria de mim
ela pensou um pouco, em silêncio, e logo disse:
"Como se as palavras que eu te disser fossem te dar o meu sentido"

Fui pressionada contra a minha angústia, de quem sempre fujo
e perguntei, em uma obrigação, o que ela queria de mim
Disse, simplesmente, que queria garantir que eu fosse humana

Não sou tão feliz nessa minha condição humna
e decici interpelar a felicidade, para saber o que ela queria de mim
E ela disse: "Quero que sigas querendo; quero que nunca encontres o que julgas querer"

Assim, eu escrevo para as palavras serem a vida,
para encarar de perto a angústia que rodeia
para dar conforto à falta de felicidade.
Dezessete palavras ditas para três mulheres aflitas
Dezessete mais três: vinte
O caminho, o coração que pinte

Para sentir basta ser esquecendo-se do que se era