Projeto Lerelena

Projeto Lerelena

Em homenagem ao centenário do nascimento da poeta paranaense Helena Kolody iniciamos o Projeto Lerelena.

Nove poetisas do sul brasileiro se propoem ao desafio de ler relendo (ler helena) e interInvencionar. A proposta é confluir e colidir a nossa letra com a dela, helena. As interInvenções serão sempre sensibilizadas por poemas seus. Nesta primeira etapa partiremos de nove poemas que serão postados a cada sexta-feira.


Miragem no caminho (Helena Kolody)

Perdeu-se em nada,

caminhou sozinho,
a perseguir um grande sonho louco.

(E a felicidade
era aquele pouco
que desprezou ao longo do caminho.)



quinta-feira, 24 de maio de 2012

Poema dos desenformados


Tentei imitar a balada do John e da Yoko

Mas me dei conta de que essa Yoko não tem um John



Quis escrever como Machado de Assis ou Eça de Queirós

Mas não sou realista o suficiente, e, mesmo o negando, ainda acredito no romantismo



Ensaiei um soneto no estilo de Gonçalves Dias

Mas meu sarcasmo aniquilou com as rimas e com as palavras de amor



Fitei a enseada como o fizera Rubião em Quincas Borba

Mas minha paixão por Machado me lembrou que não era Rubião, tampouco Capitu ou Brás Cubas, e isso me alertou para o fato de que sempre serei eu mesma



Amei como muitos já amaram, e estou apaixonada por muitos, homens e mulheres

Mas todos trazem à tona, em um ou em outro momento, o que preciso mudar em mim, pois nunca serei perfeita



Convenci-me de que o acaso não é mais do que uma coincidência, um fato insignificante

Mas nunca deixei de acreditar no destino



Olhei para todas as pessoas sós e percebi um fato simples: todas perseguimos alguma coisa

Mas como conseguiremos atingir nossos objetivos e o quê buscamos, nem mesmo isso o sabemos



Acabei me deparando com esse poema de versos simples e rimas inexistentes

E notei que não preciso pensar em uma coisa ou em outra, com um "mas" no meio

Dessa forma, fico no meio-termo da vida, tentando ser comum sem me tornar igual



Sou desenformada, etérea, fluida, intangível

Sou aquilo que não tem definição, cujas palavras não simbolizam a essência

E busco justamente aquilo que as palavras não conseguem inscrever em si mesmas



E assim somos todos, iguais perante a lei, diferentes entre nós mesmos

Buscamos saciar nossos desejos e completar a nossa eterna incompletude



Finalizando, se leste as notícias hoje, saberás que tudo permanecerá assim

Letras, músicas, pessoas não preencherão esse vácuo: é justamente ele que nos mantém vivos

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