Jornada
Tão longa a jornada!
E a gente cai, de repente,
No abismo do nada.
Helena Kolody
Se a soma do nada é branca
quem não mora aqui?
(Caro Liz)
Jornada?
O nada é a jornada.
Jor-nada.
Não sei o que o Jor
faz ali. Faz nada.
(Olivia Lucce)
Abismos amarelos
andar é cair
o CÉU não é o limite
para um pulo abismado.
(Lívia Berthe)
lerelena lerelena
lerelena
escrevê-la esvaziá-la
enchê-la revirá-la
tão curto o verso
tão longa a jornada
um nada tão cheio de
tudo
um tudo tão cheio de
nada
relerelena relerelena
relerelena
(Turquesa)
e alguém me dizia sempre que viver muito é muito... que cair é uma bexiga que vai ficando murcha... que sentar é esperar para não cair... que segurar é remédio com dor... que sonhar é ver todos curados e só então partir.
Helena Kolody 92
Jahir Mattar 95
Anali Mattar 37
Caio Kolody-Mattar curada.
tudo por Drummond
sempre que eu penso em
escrever um poema
eu penso no sentimento
do mundo
mas eu não me chamo
Raimunda
e isso não tem rima
nem solução
me deparo com minha
imagem incompleta:
duas mãos e a ausência
de rimas
um corpo que passa, um
corpo que enlaça
a vontade de ser e a
vontade de dizer
fazê-lo sem covardia e
sem graciosidade
mas com vontade de que
eu seja minha palavra
e de que minha palavra
seja eu
ao ser nada
(Maia Amai)
abismo o abismo entre blocos de rascunho da vida de um mesmo roupão branco
de todos os dias passados
e de todos os dias amassados
lembro do teto manchado de sombra cinza toda vez que a cama só tinha um lado quente lembro de não ver teto no sonho claro da cama de solteiro lembro da saia verde de linha pesada em dia de sol amarelo lembro do vestido de festa sujo da volta na rua contra mão do telefone na sala de estar no cinema ao lado do teatro do exame de sangue do vento calmante de abril das idas no parque no popi no baio na lagoa do sorriso da menina vestida de rosa que segura dos cachorros brancos na foto da estante do quarto
do choro
na escada na praia no elevador na praça na garagem no semáforo no carro no banheiro na espera do ônibus no ônibus na construção no terreno baldio na arinha no chalé na água doce na feira na beira na teia na cama da boneca na sacada no quarto de hotel no voo duplo no jornal na jornada
hoje abro mais um bloco de rascunho
isso é nada?
hoje abro mais um bloco de rascunho
isso é nada?
(Jo Ana)
De
repente é o nada
O vazio
A
incerteza
Um
buraco
sem
parede
e
sem fundo
De
repente é a liberdade
e
também o erro
O
que sobra
da
tua ausência
o
nada e
a
caminhada
(Denise Vieira)